segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Moacyr Scliar - O Mistério Dos Hippies Desaparecidos

O conto de Moacyr Scliar aborda o desaparecimento de 12 hippies da praça Dom Feliciano. Os hippies vendiam seu artesanato na praça, até que um homem vestido de cinza os leva à uma chácara no bairro Vila Nova para que la montassem uma manufatura. As vendas aumentam e os produtos dos hippies ficam famosos, porém quem leva todo o crédito, fama e dinheiro e o homem de cinza, que usufrui de todas as maneiras possíveis do sucesso criado pelos hippies. O conto termina com um dos hippies aparentemente se "rebelando", pois ele corta o cabelo, faz a barba e começa a usar um terno cinza, dando a entender que ele seria um futuro "homem de cinza". Com essa analogia Moacyr aborda a relação de dominador e dominado, isto é, um ser dominado se mostra mais forte perante aos outros e assim vem a ser um dominador. Moacyr Scliar, natural de Porto Alegre, morreu em 27 de fevereiro de 2011 e deixou um legado de muitos contos, crônicas e romances dignos de um expoente da literatura brasileira contemporânea.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Análise - Soneto Azul (Mario Quintana)

Quando desperto mansamente agora
é toda um sonho azul minha janela
e nela ficam presos estes olhos,
amando-te no céu que faz lá fora.

Tu me sorris em tudo, misteriosa...
e a rua que - tal como outrora - desço,
a velha rua, eu mal a reconheço
em sua graça de menina-moça...

Riso na boca e vento no cabelo,
delas vem vindo um bando... E ao vê-lo
por um acaso olha-me a mais bela.

Sabes, eu amo-te a perder de vista...
e bebo então, com uma saudade louca,
teu grande olhar azul nos olhos dela!
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O conto trata-se da paixão de um personagem pelo céu, em especial, sua cor azul. Mas a paixão se dá somente pela noite, com o céu com um azul predominante. Não só a cor que caracteriza o céu, o personagem também é apaixonado pela cor que o céu reproduz em sua rua, tratando assim a rua de forma diferente, dependendo do horário do dia. Apaixonado pela noite, também ama o crepúsculo, pois adora a saída de sua amada, mas fica ansioso por sua chegada, tendo certeza que ela voltará caso ele espere.

Análise - Soneto XVII do A Rua dos Cataventos (Mario Quintana)

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela amarelada...
Como o único bem que me ficou.

Vinde, corvos, chacais, ladrões de estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada.

Aves da noite! Assas de horror! Voejai!
Que luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca.
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Neste soneto o autor trata sobre os sentimentos. Eles que são moldados no decorrer do tempo, seja por acontecimentos positivos, ou acontecimentos negativos. Do jeito que o soneto é contado, cria-se o lado emocional de um personagem, constituindo-se de más experiências e emoções, mas que como o final diz, é inabalável. Independente de sua miséria, o personagem continua firme e forte perante tudo, entregando sua fé ao seu Deus e honra até na morte.

Análise - Soneto do Amor Como um Rio (Mario Quintana)

Este infinito amor de um ano faz
Que é maior do que o tempo e do que tudo
Este amor que é real, e que, contudo
Eu já não cria que existisse mais.

Este amor que surgiu insuspeitado
E que dentro do drama fez-se em paz
Este amor que é o túmulo onde jaz
Meu corpo para sempre sepultado.

Este amor meu é como um rio; um rio
Noturno, interminável e tardio
A deslizar macio pelo ermo...

E que em seu curso sideral me leva
Iluminado de paixão na treva
Para o espaço sem fim de um mar sem termo.

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Como o nome já explicita, o autor faz uma analogia de um amor infinito (sem esclarecer a quem ou a o que) com a infinidade de um rio. Porém, como sabermos um rio não é infinito, a comparação em si é com a infinidade que o rio apresenta aos olhos do autor, não se sabe como ou onde começa o amor, como um rio, por exemplo.O soneto não trata somente da infinidade, mas também é mencionada a continuidade: o rio leva consigo tudo que está em seu curso, como o amor leva tudo que está em seu caminho. 






Análise - Soneto Vidas (Mario Quintana)

Nós vivemos num mundo de espelhos,
mas os espelhos roubam nossa imagem...
Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas
seremos apenas pó tapetando a paisagem.

Homens virão, porém, de algum mundo selvagem
e, com estes brilhantes destroços de vidro,
nossas mulheres se adornarão, seu filhos
inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.

E não posso terminar a visão
porque ainda não terminou o soneto
e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...

Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida?
Que outro lábio canta, com minha voz perdida,
nossa eterna primeira canção?!
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Esse soneto se trata da continuidade na vida após a morte, mas não na sua, na dos que estão ao seu redor. Deixando claro a velocidade insensível do tempo, apresenta a vida com uma rápida passagem, o que levanta os questionamentos sobre que falta faríamos, que legado iríamos deixar ou, se alguém tomasse o nosso lugar. A dúvida é somente respondida aos que já se foram, o que não aconteceu ainda com o autor como personagem do soneto.





O Enfermeiro (Machado de Assis) [VÍDEO]