quinta-feira, 24 de julho de 2014

Análise - A dama do bar nevada (Sérgio Faraco)

A obra se passa dentro de um bar, o que deu nome ao conto, onde predominam pessoas infelizes que tentam deixar seus males de lado, porém sem êxito algum. O protagonista do conto é um desempregado, solitário e infeliz que dialoga com uma mulher após ela fazer a gentileza de completar o restante da conta deixada por ele.
Conversando com a moça, descobre-se mais um pouco sobre cada um, o nosso protagonista, que se comparava aos velhos estranhos e esquecidos da praça perto do bar, enquanto a moça afirmou ser viúva e carente. Ela que até pagaria para que o protagonista realizasse seus desejos sexuais, sem a necessidade de amor, ela simplesmente queria se sentir viva. 
Ela queria que seu pedido fosse atendido de imediato e o protagonista o fez, saindo os dois juntos do bar. Como o acontecido na obra "Dançar tango em Porto Alegre", do mesmo autor, juntos, ambos se satisfazem, mas dessa vez não sob um amor verdadeiro. O que acontece na obra é uma mulher que quer ser desejada sexualmente, mascarando seu desejo como um amor (que não existe), iludindo-se. 

O autor não deixa claro, mas no caso do homem tanto a sua solidão quanto o dinheiro que a mulher possuía podem ter sido influenciadores de seu interesse na moça. Diferentemente de "Dançar Tango em Porto Alegre", a obra não se trata de um sentimento de amor que superasse a miséria, mas uma ilusão de amor que tentasse compensar toda a frustração e sofrimento dos indivíduos. Além da característica acentuação no sentimentalismo dos personagens, dessa vez a obra apresenta um aprofundamento na descrição do cenário onde os fatos ocorrem.

Análise - Majestic Hotel (Sérgio Faraco)

A obra se inicia com as lembranças que um soldadinho deixara ao protagonista, memórias essas que se passam no "Hotel Majestic". O menino, nosso protagonista, morava com sua mãe nesse hotel, ela o isolava no quarto, fazendo até com que o menino pensasse que possuía uma doença.
O menino era muito apegado à mãe, porém ela o deixava mentindo que iria comprar comida, porém o verdadeiro motivo era para que pudesse se encontrar com um amante (o autor não deixou claro se era somente um). Em uma das poucas vezes que a mãe levou o menino para passear, um homem desconhecido trocava olhares com a mãe, deixando o menino inseguro, imaginando que se tratava de um ladrão. Mas não alguém que rouba pertences, alguém que roubaria sua mãe, eles voltam para o hotel, onde o tal ladrão também morava.
Em uma das fugidas da mãe, o menino estranhou sua demora e acabou por entrar em desespero. Tamanho desespero que o fez sair porta fora para procurar sua mãe pela sacada do hotel. Após um tempo indeterminado, a mãe chega às pressas, trazendo-lhe um soldadinho de brinquedo com a intenção de o menino esquecer o ocorrido. Ironicamente, ele só o fez resgatar suas lembranças.

O autor, que possui como característica destacar os sentimentos dos personagens, não deixa essa sua característica de lado, destacando dessa vez a inocência de uma criança. Como o ocorrido na história, o amante que era visto como um ladrão, a mãe que o deixa trancado no próprio quarto para que possa sair com outro(s) homem(s) tendo a imagem de dedicada, protetora. O tamanho da distorção da realidade dentro dos pensamentos de uma criança inocente.

Análise - Dançar Tango em Porto Alegre (Sérgio Faraco)

Maior parte da obra se dá dentro de um trem de Uruguaiana com destino à Porto Alegre. O conto relata o envolvimento amoroso do protagonista com uma passageira do trem, Jane. Sendo no começo um envolvimento lento, Jane pede para que o protagonista consiga-os uma cabine, após uma pausa feita pelo trem em Santa Maria. 
Na cabine Jane se apresenta e desabafa sobre a situação de saúde do seu marido, do seu filho, de sua vida em geral, querendo naquele momento somente esquecer de tudo. O protagonista, como um homem velho e solitário, querendo também esquecer a sua situação se envolve cada vez mais com Jane, o clima esquenta cada vez mais e os dois acabam por se envolver sexualmente. Este momento os proporcionou novos sentimentos que superaram suas tristezas.
Com sentimentos diferentes, o protagonista queria estabelecer um relacionamento entre os dois, pois por causa dela já não se sentia o mesmo. Porém, ela recua ficando distante e fala que tudo parece um tango. Depois que se separaram, um acontecimento os reúne, o trem atropelou um animal e ambos pensam que foi o suicídio do outro e correm acabando por se encontrarem. O fato de Jane ter perguntado o seu nome e ter corrido até ele fez com que o protagonista tivesse certeza que eles poderiam estabelecer um relacionamento, que ele poderia "dançar esse tango".

Sendo característico do autor o foco no sentimentalismo dos personagens, dessa vez ele destacou o amor, ele que superou os problemas pelos quais ambos os personagens sofriam. O autor expressa a importância deste sentimento.

Análise - Não chore, papai (Sérgio Faraco)

O conto contém uma proposta diferente da maioria, ele incorpora o leitor como um personagem. O leitor é apresentado como um pai de família e o protagonista é seu próprio filho. Filho esse que possui uma bicicleta desejada por toda sua vizinhança, uma "Birminghan", que caso fosse emprestada aos seus vizinhos, o protagonista ganhava como recompensa uma estampa de sabonete "Eucalol".
Desobedecendo as ordens do pai, ao invés de ir dormir ele foge com o irmão até um rio distante de sua casa, podendo chegar até ele somente com sua bicicleta. O rio, que desembocava em outros rios maiores, é usado de comparação para com seu sonho, o de explorar o mundo através de viagens. Uma promessa que fez a si mesmo.
Seu pai o encontra logo depois, furioso e é nessa cena que ele é apresentado como você (o leitor). Chegando em casa, o pai desconta sua frustração na bicicleta, fazendo com que o protagonista jure nunca perdoá-lo, sejam quantas vezes que ele o perdoará (o que fez, logo depois de seu filho ter se desculpado, a pedido de sua mãe). O protagonista já adulto, repensa as suas promessas e afirma que como um homem sonhador que não guarda rancor, já perdoou seu pai.
A obra evidencia o amadurecimento do protagonista em relação as suas ações do passado. Narrado em primeira pessoa, o conto se direciona em forma de mensagem tanto para os pais quanto para filhos, pois mostra toda a questão sentimental que gerou as ações da criança, quanta a frustração e preocupação do pai com o ocorrido (mesmo que com pouco aprofundamento). 

Análise - Guapear com Frangos (Sérgio Faraco)

O conto se apresenta em terceira pessoa, tendo seus fatos ocorrendo dentro de um ambiente rural. López, o protagonista, se sente facilmente enjoado ao se deparar com o corpo do amigo (Guido Sarasua), sumido há dois dias. Os mais velhos não sentem o mesmo enjoo facilmente, por serem mais experientes. Sarasua não é o único morto encontrado, cadáveres que possuem as correntezas do rio como seu último destino.
Sentido-se mal pelo cadáver do amigo, decide lhe dar um enterro decente (incluindo a benção do padre). No meio do processo, por um deslize o corpo é atacado por um tatu e outros vermes que o vêem como alimento. Sarasua foge a galope com o corpo, pois era chegada a vez do lanche dos corvos, os frangos negros (que deram o título ao conto).
No fim, ainda no meio de sua fuga, López rende-se a situação, pois justifica o que ocorre através de uma comparação pessimista da vida. Esta comparação pessimista se dá pela desvalorização da existência que um dia foi aquele cadáver, que como é do interesse do meio que viviam de receber igualitariamente os pertences do morto, é de igual peso que os animais possam receber os restos do morto.

A desvalorização da vida e ao mesmo tempo da morte, junto da profunda expressão de sentimentos acima da caracterização física do ambiente e pessoas são os elementos em destaque nessa obra de Faraco.